Systema Brazil

Muitas pessoas nos perguntam sobre o que é melhor treinar, Systema ou Krav Magá (e outros métodos de defesa pessoal ou e esporte).  Esse assunto foi até tema de um vídeo no nosso canal:

A primeira diferença que existe é justamente na forma de responder – a maioria dos métodos são baseados no modelo de estresse de luta ou fuga (fight or flight response)

 

Quando uma ameaça é percebida o nosso sistema nervoso autônomo (aquele que nós não controlamos) é ativado e começa a liberar hormônios e neuropetídeos que irão preparar o corpo para lutar ou fugir. Essa resposta foi estudada por Walter Cannon em 1915 a partir de estudos com animais.

A principal resposta é o aumento da frequência cardíaca assim como a frequência respiratória (para corrermos temos que ter bastante ar e sangue circulando). Outras respostas são o aumento glicose no sangue, via liberação do hormônio glucagon, justamente para permitir que os músculos tenham energia para serem ativos; há uma dilatação das pupilas para permitir a melhor visualização daquilo que está próximo de nós, há uma vasoconstrição e aumento da pressão para permitir que o sangue flua mais rápido; um aumento das vias áreas, broncodilatação, para permitir que o ar possa fluir melhor e até aumento do suor das mãos para facilitar a pegada se quisermos subir em algo. Toda essa cascata de reação acontece de maneira involuntária para facilitar nossa sobrevivência via ativação do eixo de estresse (ou eixo hipotálamo-hipófise-suprarenal HPA). E enquanto fazemos isso toda nossa digestão é paralisada, afinal é preciso correr e fugir. Depois que esse eixo é ativado demoramos cerca de 20 minutos à 1 hora para voltar ao estado de equilíbrio que estava anteriormente

Um Resumo da resposta aguda de estresse

 

Percepção do estresse (seja ele uma ameaça real ou uma emoção forte)

Liberação de hormônios e neuropetídeos como ACTH, osteocalcina, Adrenalina, Corsitol

Aumento da respiração

Aumento das batimentos e pressão arterial

Visão em túnel

Liberação de glicose (energia) na corrente sanguínea

Aumento do suor

 

Qual o problema disso?

 

Já temos muitas coisas na nossa rotina que são estressantes e que não podemos responder na forma como fomos programados biologicamente: correr para se esconder durante uma reunião de trabalho; atacar um ônibus que o fecha no trânsito entre vários outros exemplos.   Assim há uma tendência atual desse sistema estar ativado constantemente passando para uma resposta de estresse crônica (diminuição do sistema imunológico, aumento de dores, dificuldade de cicatrização e predisposição para várias doenças).  

 

Mas por que se usa essa resposta como forma de ensinar?

 

Porque funciona. Nós aprendemos pelo estresse, isso é um fato. Porém há evidências suficientes para entender que não é a melhor forma de se aprender algo. Ensinar usando o estresse é adequado quando há pouco tempo para se preparar uma pessoa. Você consegue pensar em alguma situação em que isso acontece?  Para treinar soldados e policiais por exemplo. É uma forma de ensinar que eu mesmo utilizo quando dou treinamentos para policiais ou quando tenho pouco tempo para ensinar algo.  A maioria dos alunos que procuram defesa pessoal têm medo de serem assaltados ou já passaram por situações de violência. O sistema de estresse deles já está ativo, não tem porque estressá-lo ainda mais durante anos para ensinar 5 ou 6 técnicas por faixa.   Assim, quando um aluno busca aulas de Arte Marcial Russa há momentos em que uso o estresse para que ele entenda como ele responde. Mas só depois dele já ter aprendido o básico de posicionamento e respiração (aliás, é através da respiração que controlamos indiretamente o sistema nervoso autônomo para evitar que a pessoa entre na resposta de estresse descrita acima).

 

Voltando a pergunta original

 

utras coisas para levar em consideração quando for escolher o método de defesa pessoal que quer treinar são:  Afinidade – faça diferentes aulas para identificar qual você possui melhor afinidade nesse momento de sua vida.  Qualidade do instrutor – em qualquer arte marcial (na verdade em qualquer área profissional) há pessoas boas e ruins. No contexto de defesa pessoal isso pode ser ainda mais prejudicial porque um instrutor excessivamente agressivo pode desestabilizar emocionalmente e psiquicamente uma pessoa que já está fragilizada.   Facilidade – pode ser que não haja aulas de defesa pessoal onde você mora. Você pode praticar com um amigo ou até mesmo sozinho. Mas é importante praticar as técnicas de defesa pessoal, assim buscar um local de fácil acesso para você irá facilitar com que você permaneça treinando.    Ambiente agradável – busque um local limpo com colegas de treino agradáveis. Já existe muito ambientes tóxicos e opressores.     Nem sempre a violência é a melhor resposta.  Por isso ensinamos que a pessoa análise a situação e o contexto em que ela está inserida. Gosto de usar um exemplo: imagine que você está em um casamento e alguém o puxa por trás. Se você só treina baseado no estresse é bem provável que irá socar ou até pegar uma chave no agressor desconhecido e, só depois de agir, irá perceber que era seu tio já bêbado tentando chamar sua atenção.                     

Chutar e socar não é nenhuma habilidade especial, até nossos primos conseguem.   Analisar a situação exige um pouco mais de função cortical 

Uma terça parte do Systema é o combate / defesa pessoal. Trabalhamos ainda com saúde e cura, afinal um guerreiro deve ser saudável para poder guerrear e contextualizamos para o momento atual que vivemos onde não bebemos mais no crânio de nossos inimigos, mas sim uma cerveja no final do dia

 Melhoramos a força e mobilidade. Trabalhamos com respiração e gerenciamento de estresse, aprendemos a reconhecer as diferentes emoções que podem surgir e limitações de movimento decorrente disso. Assim treinar Systema pode trazer outros benefícios do aprendizado de defesa pessoal

 PS- Há doses de ironia no texto.