Systema Brazil

O Systema – Arte Marcial Russa, assim como outras tradições, possui a visualização como um exercício a ser incorporada na prática. Quem consegue treinar e incluir a visualização percebe facilmente a diferença que induz ao treino. E como qualquer habilidade ela pode e deve ser treinada, melhorada e moldada para as mais diversas situações.

É, no entanto, importante entender que a visualização não é uma coisa puramente esotérica que não tem consequência nenhuma no corpo físico. Assim trago alguns artigos para refletirmos sobre a importância de um mindset correto tanto para a prática do Systema quanto para a vida.

Na década de 1950 um pesquisador americano pegou ratos domesticados e selvagens e colocou-os em uma “mini piscina”. Os ratos selvagens eram mais agressivos e violentos. Observou-se que os ratos permaneceram um período praticamente igual nadando, até desistirem de nadar e sucumbirem à morte. Ele observou que o ritmo respiratório, cardíaco e a temperatura dos ratos caiam muito rapidamente e eles morriam afogados. O tempo médio que os animais ficavam nadando era de 15 minutos. Os pesquisadores resolveram então testar uma teoria, retirar o rato da água quando desse 15 minutos e o colocaram novamente água. Ao fazer isso os ratos sobreviviam mais de 1 hora nadando. Eles acreditavam que ao retirar o animal da água eles lhe davam “esperança” e assim os animais conseguiam sobreviver mais tempo.

Apesar de eticamente este experimento ser condenável hoje, na época permitiu que compreendêssemos melhor o comportamento humano. Este teste de deixar o animal na água foi utilizado para testar muitas drogas antidepressivas por se um modelo considerado de depressão. O animal entra em um estado de ausência de movimento que os pesquisadores entendem ser um estado onde o animal compreendeu que é impossível fugir e desistiu. A ausência de movimento é considerada como uma reação de desespero comportamental  . Isso nos ajuda também a entender o porquê o movimento é tão essencial no Systema.

Outro modelo animal utilizado na área é o “aprendizado da impossibilidade de fuga”. O animal é colocado em uma gaiola e recebe choques. Isso é repetido algumas vezes. O animal é, então, colocado na gaiola de choque com uma possibilidade de saída e observa-se que o animal não procura fugir. Ele aprendeu que não tem como fugir dos choques e fica imóvel, aceitando seu destino. Este modelo comportamental nos mostra que, depois que aprendemos que não há solução, não insistimos em procurar soluções mesmo que a situação tenha mudado. Novamente isto no ajuda a entender porque falamos tanto em não se acostumar a uma situação ruim, buscar novas possibilidades.

Normalmente se descreve essa situação de imobilização como sendo um comportamento mal adaptativo passivo ao estresse.

O uso destes testes comportamentais visa simular um comportamento de depressão para testar drogas antidepressivas. No entanto observa-se que uma série de fatores pode alterar o resultado. A genética dos animais (traços comportamentais são, também, definidos por fatores genéticos); o sexo do animal (dependendo do ciclo menstrual as ratas podem apresentar mais imobilização); idade e peso dos ratos; se os ratos passaram por estresse durante a gestação ou nos primeiros dias de vida; se os ratos estão acostumados com os humanos; temperatura da água; barulhos e odores diferentes; luzes. Todos esses fatores podem influenciar na resposta da depressão que se quer induzir ao animal.

Biologicamente os ratos não são tão diferentes de nós, humanos. Portanto não é difícil pensar que somos também influenciados por essa série de fatores citados acima. Genética, sexo, experiências ao longo da vida moldam nosso comportamento.   Há estudos que mostram que ao receber o diagnóstico de câncer, especialmente se for um câncer agressivo, as pessoas sofrem um grande estresse que pode ter consequências fatais. Há um risco aumentado de suicídio e doenças cardiovasculares nas pessoas que recebem o diganóstico de câncer. Assim a ausência de esperança aumenta a probabilidade de ter-se uma consequência fatal.

Visualizar uma situação de modo positivo pode alterar a forma como uma pessoa lida com eventos estressantes. Uma pessoa positivaapresenta melhor qualidade de vida que ocorre tanto por ter escolhas mais saudáveis quanto por adaptações cognitivas, maior flexibilidade cerebral, capacidade de resolução de problemas e menor intensidade de processamento de informações negativas. O pensamento positivo diminui o tempo de recuperação de uma lesão, tornando o processo mais rápido.

Há também outros estudos mostrando que a visualização pode ser efetiva na ativação muscular. Imaginar-se fazendo um movimento produz uma ativação neural como se você fizesse o movimento de fato, mas de menor intensidade.

Assim devemos pensar positivo, certo? Como tudo na vida a “dose” é a chave. O excesso de pensamento positivo pode, na verdade, ter a consequência contrária, trazer mais infelicidade, agressividade, impulsividade e prejuízo econômico.

E onde entra o Systema e a prática da visualização?

Ensinamos a nossos alunos a observar o ambiente, prestar atenção no que te rodea. Mesmo que já seja um ambiente conhecido. Ensinamos nossos alunos a visualizar como sair de uma situação que parece impossível. Ensinamos nossos alunos a visualizar um exercício quando não consegue realiza-lo. Ensinamos a prestar atenção no corpo, a ter uma atitude positiva.

Este mindset faz a diferença em situações extremas, seja no trabalho, no esporte ou na vida. Por isso digo muitas vezes que a parte de defesa pessoal do Systema é a menos importante. Vemos a mudança nos alunos que começam a praticar Systema. Os alunos sentem a mudança. Cada qual a seu tempo, a  sua maneira, começa um processo de desenvolvimento pessoal. Hoje brinco que começar a treinar Systema é um caminho sem volta, você sairá diferente do que entrou.